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Sobre a língua Tupi

Sem a pretensão de esgotar o assunto mas apenas abordá-lo em alguns aspectos citarei abaixo algumas das minhas  reflexões :

O estudo da língua tupi me fez descobrir como uma sociedade não só valoriza a natureza como também a coloca como o centro da sua cultura, onde ela é tratada como algo sagrado: pede-se licença para entrar na mata, para banhar-se no rio ou para abater uma caça para alimentar-se.

Como a natureza alí é determinante, os substantivos com nomes relativos à natureza não são precedidos de pronomes possessivos ou seja, a natureza não pode ser possuída e sim compartilhada. Ela é a casa sagrada que deve ser preservada pelos ancestrais, repassada e mantida pelos descendentes.

A fala estando associada à alma, também assume um caráter de responsabilidade e sabedoria daquilo que deve ser dito. Gramaticalmente falando, muitas palavras se originam nos elementos da natureza como a água, a terra, o mar, a lua, o sol, as nuvens, a chuva, etc. Daí derivam e se complementam em substantivos, adjetivos, advérbios  e recebem partículas que trazem novos sentidos.  Rica e prática, nela o verbo não varia, se mantem deixando os complementos se altearem de acordo com a intenção da mensagem. Novamente os elementos da natureza dão sentidos aos adjetivos de dureza, tenacidade, flexibilidade, qualidade, etc.

Substantivos são adjetivados e adjetivos são substantivados. Complementos pronominais contraídos com vogais são acrescidos de forma prática nos verbos já indicando quem fala. Ou seja, o verbo é acrescido anteriormente com o pronome de forma contraída. Na sua praticidade, se referem aos objetos de forma genérica e quando precisam, especificam os detalhes.

As vogais e semi vogais são quase na mesma quantidade das consoantes no seu alfabeto.  Isso confere importância às vogais e semivogais,  diferenciando-as na forma falada com acentos, guturalidade, etc.

Adota partículas vogais substantivadoras. A  posição de substantivos e adjetivos indicam  quem é determinante e/ou  quem está em segundo plano na mensagem.

Assim como no alemão ou em outras línguas, os tupis adicionam palavras juntando-as, mantendo os sentidos substantivando, adjetivando ou adverbiando. Ou seja, utilizam os vários recursos gramaticais unindo-os em uma única palavra. A Serra do Mar com três palavras é contraída em “local onde se avista o mar” (Paranapiacaba, de forma “aportuguesada”). As palavras trazem total sentido com a realidade onde o abstrato não ganha espaço. E todos  os sentidos estão contidos na gênese cultural.

Se a posse é desincentivada ou inexistente como nos elementos da natureza, o coletivo é exaltado.

O problema  da perda de quantidades de fonemas foi devido ao extermínio das várias etnias no processo de  colonização, somado a proibição do uso da língua pelo Marquês de Pombal. A comunicação é toda oral e por meio de gestos e exemplos práticos. A escrita só chegou com Anchieta quando da invasão portuguesa.

Hoje conhecemos apenas aproximadamente 60 mil palavras do tupi comparando com aproximadamente 160 mil da nossa língua portuguesa.


A internacionalização do Tupi:

É tão forte a influência tupi notadamente com elementos da natureza, que o fruto do cajueiro o Cajú , Anacardium occidentale, Akaiú em tupi,  atingiu o mundo pela sua importância estando nos limites das terras brasileiras. Assim, o nome derivado do tupi adentrou os diversos dicionários a saber:  Acagiú (Itália), Kaju (Turquia), Cajou (França), Kásious (Grécia), Kashu (Japão e Bulgária) e Ka~su (Estônia). Ainda complementando, o dicionário de língua inglesa Merriam-Webster cita várias palavras de origem Tupi como: manioc, capybara, toucan, jaguar e tapir. (fonte: Agência Brasil EBC).

Avalio que não sendo antropocêntrica, a cultura tupi tende a ser solidária, responsável, auto sustentável e comunitária.

Em nossa comunidade miscigenada eu creio que aprender a língua tupi nas escolas juntamente com a sua cultura ensejaria um conhecimento o qual provavelmente resultaria numa sociedade mais humana, com mais empatia, solidariedade e com  mais respeito ao meio ambiente.

Resgatá-la no meu entender é um reconhecimento da nossa dívida histórica e um enorme ganho cultural para o nosso país.



Eduardo Seraphim